Relatório Técnico Expedição Safra 2017/18
Produção e Tecnologia que Desafiam Mercado e Produtor
HISTÓRICO
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Há 12 anos, o Agronegócio Gazeta do Povo saía pela primeira vez de Curitiba para acompanhar de forma intensa e sistemática a safra brasileira de grãos, começando pelo Paraná e, já nas temporadas seguintes, expandindo o roteiro para os 12 principais estados produtores do país, que concentram 90% da colheita nacional. Começava ali a Expedição Safra, no que, hoje, é o “longínquo” ciclo 2006/07.
Nesse período, o projeto técnico-jornalístico observou de perto a transformação da produção brasileira em três frentes principais: agronômica, logística e de mercado.
A primeira foi marcada pela consolidação do Centro-Oeste e pelo “desbravamento” do Matopiba, a última fronteira agrícola do país; a segunda pela abertura do Arco-Norte, que, a cada ano, ganha em escala e participação no escoamento da colheita; e a terceira pelo posicionamento do Brasil no mercado internacional como o maior exportador de soja no planeta, superando a antiga concorrência dos Estados Unidos.
A Expedição Safra passou a cobrir ainda os principais polos produtivos mundiais, com roteiros fixos por Estados Unidos, Argentina, Paraguai e Uruguai, além de incursões extraordinárias por centros consumidores, destacadamente China, União Europeia, Israel e Rússia.
No entanto, assim como o agronegócio brasileiro e internacional, a Expedição Safra também está em evolução constante, com foco em uma cobertura digital ampla e dinâmica, e tirando proveito da capilaridade construída ao longo de mais de uma década a campo.
INTRODUÇÃO
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Entre novembro de 2017 e abril de 2018, a Expedição Safra visitou 12 estados brasileiros para conferir o andamento de mais um ciclo que prometia ser de bons resultados a campo, mesmo com as adversidades climáticas que atrasaram o início do plantio.
O projeto também acompanhou o balanço e as perspectivas de plantio e colheita nos Estados Unidos e nos vizinhos de América do Sul, mais uma vez encerrando o roteiro no Uruguai.
Foram quase seis meses de estrada e mais de 60 mil quilômetros rodados, que alimentaram os canais do Agronegócio Gazeta do Povo e serviram como base para este relatório, que analisa cada região percorrida e traz todas as projeções de colheita e comercialização, além de tendências para o próximo ciclo.
RELATÓRIO E METODOLOGIA
O relatório da Expedição Safra 2017/18 foi construído a partir de um trabalho de investigação técnico-jornalística, com base em visitas a produtores rurais, entidades representativas do agronegócio e cooperativas agropecuárias, nos Estados Unidos e na América do Sul, além do acompanhamento das tendências de mercado junto a especialistas do setor.
O Agronegócio Gazeta do Povo cruza as informações obtidas por meio de um questionário próprio com os dados gerados por entidades como Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), Bolsa de Chicago (CME), Bolsa de Comércio de Rosário (BCR), Bolsa de Cereais de Buenos Aires, Ministério da Agricultura da Argentina (Minagri), Ministério da Agricultura do Paraguai (MAG) e Câmara de Exportadores de Cereais e Oleaginosas do Paraguai (Capeco).
O resultado é que neste documento, você, leitor, tem um diagnóstico detalhado, por estado e por países, das áreas de semeadura, produção, produtividades médias e balanço de exportações, das principais culturas da cadeia produtiva de grãos, além de tendências de clima e de mercado para os meses seguintes à publicação. As informações entram no escopo do Indicador Brasil da Expedição Safra, um conjunto de números que atua de forma a complementar e fazer um contraponto às estatísticas de órgãos oficiais.
O relatório serve como uma ferramenta de tomada de decisão, dentro e fora da porteira, que concilia duas abordagens de maneira singular, uma técnica – que trabalha sobre as variáveis estatísticas – e outra jornalística, com entrevistas e relatos de caso sobre o segmento.
BRASIL
Uma safra de redenção
Depois da retomada, veio a consolidação (mesmo com alguns sustos durante o caminho). Se o início da campanha 2017/18 foi marcado por um sentimento de preocupação em relação ao clima, o desenrolar da safra viu produtores se reencontrarem com o otimismo.
A expectativa é de que a produção brasileira de grãos chegue a 221 milhões de toneladas, um aumento de 1,4% em relação ao ciclo passado, que havia sido recorde.
A baixa em algumas culturas, como o milho, será compensada, sobretudo, pelo incremento na colheita da soja e pela recuperação nas lavouras de trigo, que devem ser beneficiadas pelo clima e também por uma conjuntura de mercado mais favorável em virtude do câmbio instável, já que praticamente metade do consumo nacional é suprida pelas importações.
Soja
Da apreensão para um novo recorde
A safra anterior havia sido perfeita do ponto de vista climático. Com condições ideias de umidade no solo, produtores de todo o país conseguiram antecipar o plantio da soja e ganharam tempo de colheita, cuja produção foi amplamente beneficiada com dias de sol e chuvas na medida ao longo de todo o desenvolvimento das plantas.
Um cenário muito diferente daquele que era previsto para campanha 2017/18. Principais polos sojícolas do país, Paraná e Mato Grosso passaram o mês de outubro sob a expectativa da normalização – ou, pelo menos, amenização - do regime pluviométrico. A semeadura estava atrasada e a preocupação era de que, mesmo que voltasse a chover, o plantio ficasse concentrado num espaço de tempo muito curto.
A partir de novembro, o panorama mudou. O clima voltou a colaborar, às vezes com chuvas até demais, mas nada que atrapalhasse as produtividades médias. No Matopiba, onde o plantio se estende além da virada do ano, não houve quaisquer problemas significativos e a colheita é excelente. Os rendimentos se aproximaram dos recordes de 2016/17 e o resultado é mais uma produção histórica no Brasil, cravando o país – e com folga - num patamar acima dos 100 milhões de toneladas, ao lado dos Estados Unidos.
A única exceção foi o Rio Grande do Sul, que experimentou um cenário semelhante ao vivido por Uruguai e Argentina, principalmente ao Sul e Oeste do estado. Lá, o quadro de estiagem se prolongou por até quatro meses e mesmo com a volta das precipitações, em alguns pontos o estrago já havia sido feito, pressionando o rendimento médio das lavouras.
Milho
Milho verão em queda livre
Como consequência das condições de mercado, que, depois de uma colheita recorde do cereal em 2016/17, levaram os preços para baixo, produtores de milho verão em praticamente todas as regiões do Brasil deram preferência à soja na primeira safra.
A tendência de queda já se pronunciava durante os últimos ciclos, tendo como ponto fora da curva a campanha passada, quando a área destinada ao milho verão havia aumentado pela primeira vez em oito anos, diante da necessidade de recomposição dos estoques.
Agora, numa combinação entre redução drástica de área e menos investimentos em tecnologia, prejudicando as produtividades médias, a produção despencou principalmente no Sul. Mais sensível que a soja, o milho sentiu, ainda, o peso do clima. O bom desempenho do Matopiba ajudou a evitar tombo maior, mas, no geral, o recuo estimado é de quase 15%.
Milho Safrinha
Olho no clima
Assim como na safra de verão, o clima foi o centro das atenções durante o plantio da safrinha. A influência do La Niña já não era tão intensa, colocando a semeadura numa faixa de neutralidade climática. Em tese, o fenômeno até poderia ser benéfico para o milho em Mato Grosso, com o prolongamento do regime de chuvas. Mas é preciso salientar que foi em 2016/17, um ano safra neutro do ponto de vista do clima, que o estado e o país conseguiram os melhores resultados da história com o cereal.
É verdade que, por causa do atraso na safra de soja, o calendário da safrinha foi pressionado. Em algumas regiões do Paraná, inclusive, onde se tornou muito arriscado o cultivo do milho segunda safra, produtores acabaram optando por outras culturas, inclusive o trigo. Com relação a geadas, a possibilidade existe para o Oeste paranaense, a partir de junho.
Contudo, num panorama global, a área semeada no Brasil deve superar a temporada anterior pela valorização nos preços, impulsionados dentro e fora do país pela quebra de safra na Argentina. Em relação às produtividades, é esperada uma redução em virtude da incerteza climática, mas não a ponto de fazer recuar a produção total da safrinha no país.
Trigo
Após o tombo, expectativa de recuperação
Na safra 2016/17, diferentemente de outros grãos, o cultivo de trigo sofreu um impacto violento do clima. Produtores tiveram que enfrentar estiagens, chuvas em excesso e geadas ao longo do ciclo, o que comprometeu o rendimento das lavouras e levou a uma quebra de produção na ordem de 30%. Com estoques abastecidos desde a safra anterior, que havia sido cheia, o prejuízo acabou sendo amargado pelos triticultores, ainda mais porque a Argentina supria as necessidades dos moinhos brasileiros.
Em 2018, entretanto, o cenário se inverteu: encontrar grãos de qualidade já não é tarefa simples após as perdas na campanha 2016/17. Além disso, o ambiente político instável no Brasil tem mexido com o câmbio de forma considerável, tornando as importações mais custosas, ao mesmo tempo em que os preços internacionais são sustentados por uma oferta controlada, com crescimento da Rússia, mas retração em outros países exportadores.
Com este panorama e considerando o calendário pressionado da safrinha de milho, a área dedicada ao trigo vai se manter mais ou menos estável no atual ciclo, revertendo uma tendência de queda acentuada nos últimos três anos. Após as adversidades de 2017, o clima também deve ser mais favorável, levando a uma recuperação produtiva e de qualidade.
Matopiba
La Niña traz ciclo de vacas gordas
É possível que a safra recorde em 2017/18 no Matopiba (confluência de áreas agrícolas em partes do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) se repita pelos próximos dois ciclos, no que se desenha como um período de “vacas gordas” para a atividade agrícola naquela região.
Os bons prognósticos se devem, em grande parte, à permanência do fenômeno La Niña, que costuma aumentar a incidência de chuvas na região. Nesta última temporada, conforme presenciou a Expedição Safra, além de “mansas”, as chuvas foram bem distribuídas.
Matopiba é menor do que no Sul e no Centro-Oeste, regiões consolidadas para agricultura, porque a cada ano são acrescentadas novas áreas de cultivo, ainda não fertilizadas, num ritmo de expansão de 8% a 10%. No Piauí, a estimativa é de que existam ainda 3 milhões de hectares aptos para a agricultura.
A produtividade dos grãos no Matopiba é menor do que no Sul e no Centro-Oeste, regiões consolidadas para agricultura, porque a cada ano são acrescentadas novas áreas de cultivo, ainda não fertilizadas, num ritmo de expansão de 8% a 10%. No Piauí, a estimativa é de que existam ainda 3 milhões de hectares aptos para a agricultura.
Produtividades de até 4.800 kg/ hectare, antes consideradas fora da curva, já começam a ocorrer em vários talhões, graças, em grande parte, às ações de construção do solo, evitando a perda de umidade nos dias de calor. A boa colheita foi um alívio financeiro para os produtores. Há apenas dois anos, eles enfrentaram uma estiagem que derrubou a produtividade média para menos de metade do esperado.
Nos próximos anos, a região deve plantar mais milho. A chegada recente de variedades superprecoces de soja abriu uma janela para fazer a safrinha. Quanto antes for possível plantar milho no Matopiba, maiores as chances de fugir da estiagem. Depois de maio, como dizem os produtores, as chuvas “cortam” por quase seis meses.
ARGENTINA
Uma safra para esquecer
O sol dizimou a safra da Argentina. Quando as primeiras projeções foram divulgadas, o país, que ocupa a terceira colocação no ranking mundial de produção de grãos, esperava colher 57 milhões de toneladas de soja. Colheu 18 milhões a menos.
A pior estiagem em 30 anos atrasou o plantio e prejudicou o desenvolvimento das plantas. É a pior colheita do país desde a temporada 2008/09. E as consequências vão surtir efeito na economia fragilizada, que luta contra a inflação, para reduzir o déficit fiscal e aumentar as exportações. Com o milho, não foi diferente.
É a primeira vez em anos que o país, grande exportador do cereal, está importando de países como Brasil e Estados Unidos. A quebra da safra argentina, aliás, foi uma boa notícia para produtores de outros lugares do mundo, principalmente do Brasil.
PARAGUAI
Uma economia invejável
Para quem percorre lavouras do Brasil e da América Latina, é raro não ouvir um produtor lamentando, seja da produção, do clima ou do preço. No Paraguai, nesta safra, foi diferente. Em quase todas as regiões do país, que já ocupa a 5ª colocação mundial no ranking de produção de soja, o discurso parece ter sido ensaiado. O clima foi bom, a colheita foi excelente e os preços estavam satisfatórios.
Nação que mais cresce na América do Sul desde 2010, o Paraguai vive um bom momento na economia, principalmente na gerada pelo campo. O país não repetiu o recorde de produção do ciclo anterior, mas chegou perto, apostando cada vez maisna cultura e, mais importante, na infraestrutura para escoar a produção.
Na esteira de obras, duplicação e recuperação de estradas, além de um investimento pesado em terminais portuários para ampliar a capacidade de transporte através da hidrovia Paraná-Paraguai.
URUGUAI
Pequeno e cheio de problemas
Na última década, o Uruguai aumentou em 50% a área dedicada à agricultura e em 70% sua produção. Nesta safra, no entanto, o país sofreu um tombo do clima. A mesma estiagem que atingiu a Argentina provocou perdas enormes no vizinho da Bacia do Prata.
O país colheu menos de 2 milhões de toneladas de soja, uma quebra de 44%. Para piorar a situação, os produtores estão em guerra com o governo, que não tem políticas especificas de apoio para os agricultores. Atualmente, 60% da produção agrícola uruguaia estão em propriedades arrendadas, o que aumenta substancialmente os custos. Aliás, no início do ano, agricultores de diferentes regiões do país fizeram um grande protesto contra o governo federal, incluindo a paralisação de rodovias.
AMÉRICA DO SUL
Uma safra de altos e baixos
O ciclo 2017/18 começou com apreensão para os principais países produtores no Cone Sul. A previsão de um La Niña, ainda que de baixa intensidade, ligou o sinal de alerta para a possibilidade de estiagens, sobretudo na porção mais ao Sul do continente.
O fenômeno, que se caracteriza pelo resfriamento das águas do Oceano Pacífico e acarreta em chuvas bastante irregulares nestas regiões, de fato atrapalhou o início da semeadura. Plantadeiras ficaram paradas quase um mês até que fosse possível ir a campo. Alguns produtores arriscaram e decidiram plantar no pó.
No Brasil, a tática funcionou. A partir de novembro, principalmente, o tempo passou a colaborar em quase todas as regiões, o que, com o ganho em área, leva o país a mais uma safra recorde. Uma exceção entre os sul-americanos. Paraguai, Uruguai e, principalmente, a Argentina – cuja quebra beira os 20 milhões de toneladas - sentiram e muito o peso do La Niña. Nestes países, as lavouras torraram sob o sol e não receberam as chuvas necessárias para aliviar o estresse hídrico. Ainda sobre a Argentina, uma curiosidade é que, no ciclo passado, o país havia destoado dos vizinhos que colhiam como nunca, mas por motivos opostos: o excesso de precipitações que limitou as produtividades.
A quebra mexeu de forma significativa com o mercado internacional, com a disparada dos preços, tanto da soja quanto do milho. Os argentinos são os principais exportadores de farelo e óleo de soja, de modo que toda a cadeia da oleaginosa e de grãos foi impulsionada. Como a demanda externa permanece forte, os concorrentes agora brigam para ocupar esse espaço, com lugar de destaque para o Brasil, que vai bater mais um recorde de embarques.
ESTADOS UNIDOS
Supremacia do milho chega ao fim
Depois de uma colheita histórica no ciclo 2016/17, com os melhores números obtidos até então, tanto com a soja quanto com o milho, os Estados Unidos fecharam a campanha 2017/18 com excelentes resultados, porém, de forma distinta.
O clima não colaborou tanto, houve excesso de chuvas e até neve antecipada em alguns pontos do Corn Belt, o cinturão produtivo no Meio-Oste norte-americano.
O rendimento da oleaginosa caiu, mas foi compensado pelo ganho em área, o que levou o país a mais uma safra recorde. No caso do cereal, mesmo com todas as intempéries, a produtividade média superou as expectativas e ficou acima da temporada anterior, consequência do forte investimento em tecnologia para enfrentar as adversidades climáticas. Contudo, a cultura havia perdido terreno, em meio a um mercado desvalorizado pela ampla oferta internacional, e fechou com uma produção menor.
Para a safra 2018/19, a tendência se manteve e, pela primeira vez em 35 anos, os EUA vão semear mais soja do que milho, com 36 milhões de hectares e 35,6 milhões de hectares respectivamente. Chama a atenção que, nos dois casos, as áreas plantadas são menores do que no ciclo anterior, sugerindo que a agricultura norte-americana chegou ao limite em relação à cobertura de plantio. Aqui, é preciso salientar a diferença entre área semeada e área colhida, sendo esta última considerada para os cálculos finais de produção.
Resta aos agricultores do país a busca por produtividades sempre maiores. Nas últimas duas safras, eles provaram ser capazes, mas a tarefa será cada vez mais desafiadora.
RÚSSIA
O país da copa, do trigo e da carne
Ao contrário do Brasil, o futebol está longe de ser a paixão nacional na Rússia. Mesmo assim, o país conquistou o direito de sediar a Copa do Mundo de 2018. Porque o campeonato mundial vai muito além do futebol. Receber o torneio significa ir para a vitrine, política, econômica e de influência no cenário da geopolítica internacional. A Rússia gosta sim de futebol. Mas a Copa do Mundo, para os russos, é muito mais uma estratégia de marketing e merchandising do que necessariamente amor a esse esporte.
No ambiente do agronegócio então, o que menos importa é o futebol. Nesse segmento, a relação entre Brasil e América do Sul com Rússia é de décadas. Historicamente, o bloco sul-americano mais vende do que compra dos russos. Uma balança comercial extremamente favorável ao Brasil puxada pelas exportações de carne, principalmente de suínos e aves. Mas isso está mudando. E rapidamente. E será que o Brasil está preparado para essa transformação? Porque a Rússia parece que está.
Na última década o país do Leste Europeu não apenas diminuiu sua dependência do produto externo, no caso de suínos e aves, como ampliou sobremaneira sua produção de cereais, do trigo em especial. E agora quer negociar. Para continuar comprando carne do Brasil, a Rússia quer reciprocidade na exportação de trigo. Embora isso não atenue o fato de a Rússia estar produzindo parte da sua demanda por proteína animal, o que naturalmente reduz as importações.
O recado que a Rússia passa neste momento para o Brasil é que as importações de carne podem reduzir ainda mais, a não ser que o país libere a entrada do trigo russo. Isso mesmo, uma proposta de escambo que coloca o Brasil na parede. As opções são: 1) Liberar o trigo russo para manter em patamares mínimos a venda de carne para a Rússia. Alternativa essa que seria uma pá de cal à triticultura nacional; 2) Não se render ao escambo e colocar em xeque a pecuária brasileira, ou pelo menos impor limites à expansão da produção e exportação de carnes pelo Brasil.
Para entender o tamanho desse negócio:
- Em 2017 a Rússia produziu 85 milhões de toneladas de trigo. Exportação perto de 40 milhões de toneladas;
- Em 2017 a Rússia importou 252,4 mil toneladas de carne suína e 83 mil toneladas de carne de frango do Brasil;
- Em 2016, auge das exportações, o Brasil chegou a enviar 236,9 mil toneladas de carne suína e 91,1 mil toneladas de carne de frango para a Rússia;
- Enquanto isso, o trigo patina no Brasil. Com uma produção de 5 milhões de toneladas, o consumo interno já ultrapassa os 12 milhões de toneladas;
- Impulsionada pelo mercado internacional, em 10 anos a produção de carne suína saltou de 2,99 milhões de toneladas em 2007 para 3,73 milhões de toneladas em 2017. Já a produção de frango pulou de 10,3 milhões de toneladas em 2007 para 12,9 milhões de toneladas em 2017.
ISRAEL
Nação Start-up e Agritech
Conhecido como ´nação start-up´, o país é mundialmente reconhecido pelas soluções tecnológicas aplicadas à agricultura. Um ambiente de alta complexidade e ao mesmo tempo de uma simplicidade sem igual, que fazem de Israel sinônimo de tecnologia e inovação. Pesquisar, propor e encontrar soluções aos desafios e limitações impostos pelas condições naturais e políticas do país não é uma questão de opção, mas condição à sobrevivência e soberania.
Com mais de 60% de seu território compostos por desertos e com a apenas quatro meses de chuvas (média de 500 mm de novembro a fevereiro), Israel aposta na tecnologia, aliada à ciência básica, para explorar e potencializar os poucos recursos naturais disponíveis. É do uso racional do solo e da água que o país de 8,7 milhões de habitantes consegue ser autossuficiente em várias cadeias produtivas, em especial de leite, frutas, verduras, legumes, flores e cereais. Frutas, flores e legumes também se destacam na pauta de exportação.
Mas o principal produto de exportação de Israel é a tecnologia agrícola. Também se destacam as frutas, em especial tâmara, romã e mandarina.
A disponibilidade de água sempre foi a principal preocupação de Israel. Hoje, graças a tecnologias de dessalinização e reciclagem, e do uso racional da água na agricultura, essa é uma limitação amplamente administrável. Foi em Israel onde surgiram ou foram aprimorados os sistemas mundiais de irrigação, como por exemplo o gotejamento;
Estima-se que 50% da água disponibilizada no país vão para a agricultura. E que 90% da água residual são tratados e reutilizados na agricultura e indústria. Se no Brasil soja e milho são sinônimos de commodities, em Israel a principal é a água;
Depois do Ministério da Defesa, o Ministério da Agricultura é o que recebe a maior parte dos recursos do governo. A verba é aplicada em extensão rural, crédito, desenvolvimento e aplicação de novas tecnologias;
Proporcionalmente, Israel também é o país que mais investe em pesquisa no mundo, o equivalente a 4,7% do seu Produto Interno Bruto (PIB);
Com cerca de 130 mil vacas, 95% do rebanho é da raça holandesa, 100% confinado e com média de 40 litros/vaca/dia.
COMERCIALIZAÇÃO DE SAFRA
O início de safra foi bastante lento no quesito comercialização antecipada, mais até do que na temporada passada, que já havia caminhado devagar neste aspecto. Entretanto, ao longo de fevereiro e março, os índices se recuperaram e ultrapassaram o ciclo anterior.
O mercado reagiu à guerra comercial travada pelo presidente Donald Trump com a China e também às adversidades climáticas na Argentina. Em março de 2018, a cotação média da soja em Chicago fechou em US$ 10,37 por bushel (contra US$ 9,91/bushel em março de 2017).
Simultaneamente, os valores pagos nos portos também subiram consistentemente. Com o câmbio favorável, as exportações se mantiveram altas desde o final do ano passado, movimento que continua ao longo de 2018. A expectativa é de mais um recorde.
Caso as condições favoráveis de plantio se confirmem para a campanha que está por vir, as vendas antecipadas devem manter o ritmo forte.
TENDÊNCIAS SAFRA 2018/19
Soja
Pelo segundo ano consecutivo, o Brasil superou a marca de 100 milhões de toneladas e se aproximou ainda mais do volume colhido pelo maio r produtor mundial, os Estados Unidos.
Para a safra 2018/19, diferentemente do que tem sido observado entre produtores norte-americanos, a tendência de crescimento da soja segue forte no Brasil. A oleaginosa apresenta maior liquidez, além do potencial para ocupar áreas de pastagens degradadas.
Com o clima numa situação de neutralidade, a expectativa é de que as chuvas favoreçam o calendário de semeadura e, posteriormente, os rendimentos das lavouras.
Não é impossível que a colheita brasileira supere a norte-americana já na temporada 2018/19. Com um crescimento de 3% (o que é provável diante das condições de mercado, com preços aquecidos e câmbio favorável), a área de soja chegaria 36,1 milhões de hectares, a mesma semeada nos EUA, conforme o Departamento de Agricultura do país. Na campanha 2017/18, as produtividades entre os dois foram praticamente idênticas. Ou seja, a depender do andamento do ciclo (em que os americanos enfrentam dificuldades por conta do frio intenso), não seria surpresa se o Brasil assumisse a liderança na produção mundial, igualando o feito que obteve com as exportações ainda em 2017.
Ainda a respeito do mercado internacional, a guerra comercial travada pelo governo dos EUA com a China abre ainda mais espaço para a soja brasileira. O cenário é de otimismo.
Milho
O milho também experimenta um momento positivo no Brasil. Assim como no caso da soja, os preços têm melhorado, em parte por causa da quebra na Argentina, mas também em razão da redução de área nos Estados Unidos e das disputas do país com China e México.
Ainda que mais caro que o norte-americano, o grão brasileiro vem ganhando participação no mercado internacional, com recordes de exportação. A tendência é de que, cada vez mais, a primeira safra – concentrada no Sul - sirva para abastecer parte do mercado interno, sobretudo a indústria de ração animal (que sozinha demanda aproximadamente 40 milhões de toneladas), enquanto que o foco da safrinha continue nas vendas externas e na composição dos estoques.
Após a queda brusca na campanha 2017/18, a área destinada ao milho verão deve ser mantida para a temporada 2018/19, com incremento ficando a cargo da segunda safra.
Clima
O La Niña já perdeu força, dando espaço a uma situação de neutralidade climática.
Até o começo da primavera, a expectativa no Centro-Sul é de períodos curtos de muito frio - uma semana, no máximo -, intercalados com ondas de calor, além de chuvas irregulares. No Centro-Norte, a temporada mais seca começa a partir de maio, mas não deve trazer danos à safrinha.
A safra de verão 2018/19 também começa com esse aspecto neutro em relação ao clima. Diferentemente do ciclo atual, não existe, ao menos por enquanto, tendências que possam acarretar em atraso da semeadura, o que potencializa a colheita da soja e do milho safrinha em 2019. Caso a neutralidade permaneça, significaria a normalização do regime de chuvas em áreas que sofreram com a estiagem severa, como Argentina, Uruguai e Rio Grande do Sul.
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